Saturday, August 05, 2006

União nacional contra o voto nulo

O governo é contra. César Maia e UJS fazem coro para manifestar seu horror. O TSE acha uma barbaridade. Líderes do PCdoB, PSDB, PT, PSOL e PFL formam quase uma frente parlamentar para lutar contra a ameaça. O jornal O Globo dá porrada, assim como todo o resto da grande mídia (e da pequena também).
Todo mundo contra o voto nulo. Segundo o jornalista Aydano André Motta (O Globo, 1/8/2006), o voto nulo é "derrota cívica", os blogs a seu favor são "pura desinformação". Além de todos "mal-humorados", o que seguramente nos inclui. Cita alguém que diz que "o mais ruim e o menos ruim são essencialmente uma só coisa, ruim" e fulmina: "isso lá é argumento que se apresente?" (Bom, pelo menos é um argumento, enquanto "isso lá é argumento que se apresente?" não é argumento nenhum.) E o artigo se encerra com a velha lição de moral: "correr atrás de candidatos que prestem é a única saída".
Bom, ele tem toda a razão. A vida, aliás, me ensinou a jamais discordar de um jornalista de O Globo... O problema é que ele tem razão da perspectiva de manter o sistema representativo atual e a ilusão de soberania popular. Correr atrás de candidatos que prestem não é a saída pelo simples fato de que candidatos que prestam fatalmente se tornam governantes que não prestam. Não é questão de nomes. É o modelo. É estrutura.
Não custa assinalar que a campanha institucional contra o voto nulo, patrocinada por tribunais eleitorais, é um absurdo e uma inconstitucionalidade. Mesmo no nosso ordenamento jurídico, votar nulo é uma das opções à disposição das cidadãs e dos cidadãos. Não cabe ao Estado vetá-la.

15 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ainda bem que eu voto em Rondônia!!! Aqui a gente nem precisa ficar se justificando muito por votar nulo!

Saturday, August 05, 2006 11:10:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

a união do pcdob com o cezar maia contra o voto nulo diz tudo!!!

Saturday, August 05, 2006 11:19:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

estrutura e processo estão, no fim das contas, bastante ligados.
Não, também não acho que votar nesse ou naquele canditato fará alguma diferença para a estrutura de participação e representação no Brasil
Não, também não acho que o modelo que temos privilegie a participação.
Mas, daí dizer que votar em PT e em PFL é a mesma coisa, é ignorar que entre um voto e outro há 4 anos de processo, 4 anos de espaços a serem ocupados.
Acredito que vota nulo (ou em branco) quem não tem paciência e determinação de participar durante os 4 anos, alterando, durante o processo, as estruturas. E, pra esses se "vontade-política", melhor mesmo é que não votem, pois não devem mudar nada (das estruturas) nem com seu voto, nem em um e outro...

psiu. Sim, acredito no potencial de "mandar recado" pelo voto, mas, na real: não sou menino de recado! Chuto e a porta e entro!

Sunday, August 06, 2006 10:54:00 AM  
Blogger miguw said...

achei engraçado. vota nulo quem não tem paciência e determinação de participar durante os 4 anos, alternando, durante o processo, as estruturas.

não seria melhor dizer: quem não tem paciência de participar durante os 500 anos esperando a alteração das estruturas?

vamos colocar da seguinte forma: nossos recursos são escassos. as energias utópicas de que necessitamos para mudar a sociedade são limitadas. se nós as desperdiçamos no espaço da política institucional, então não sobra pra arenas potencialmente mais interessantes.

ao votar nulo, eu (menino de recado) estou dando esse recado. e é importante que ele seja dado.

um abraço.

Sunday, August 06, 2006 2:06:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Vamos colocar então de outra forma: não, nossos recursos não são escassos, como não são nossas utopias.

Queria compreender melhor, e perceber contra-argumentos, para a proposta de participar da mesma maneira, durante os 4 anos, de um governo do PFL e de um governo do PT (para citar dois exemplos nem tão diametralmente opostos quanto deviam).
Conferências, ouvidorias, OPs, Praças do Povo - essas são algumas das idéias que vimos surgir no espaço político institucional nesses últimos 4 anos (pra citar somente o caso federal). Male, Male, são outros espaços de interlocução da Sociedade com o Governo. Com "este" governo, em especial, diga-se em negrito! É que, na boa, ver o PFL fazendo conferências democráticas e participativas é, no mínimo, estranho e engraçado! Não?
Já imaginou você participando de uma assembléia no PFL pra votar propostas para o plano de governo? Legal, né?!

E, caríssimo Miguw, acredito (só uma crença sem muitos fundamentos mesmo) que você não esteve esperando durante os últimos 500 anos pra participar não, ok? No máximo, durante os últimos 20 de democracia, os últimos 50 ou 70 de vida...
Em resumo, pra quê ficar pegando justamente essa "herança" dos nossos ancestrais políticos (diga-se claramente, "que (esta) política 'não dá certo'") quando poderíamos resgatar o potencial que há numa ação (seja ela individual ou coletiva) e todas as grandes transformações que vimos realizadas durante esses mesmos 500 anos (de não-democracia, como sua hipótese parece supor)??

Sim, temos energia sobrando...Você não? Sabe o potencial que tem esse seu blog, enquanto ação política? Acho que sim...
Mas, pra isso, acredito que a mobilização devesse ser no caminho: vote (não, não é votar nulo!), mas não vote somente. Participe! Esse é ainda um problema presente.
Resolvido esse, e resolvida situação nenhuma, há sim que se desacreditar novamente (por breve momento) até que "máquina de guerra e de desejos" se intale novamente. E que não tenhamos mais esse tipo de votação (que cansa, irrita até!)...

Não!! Não é "participatite", como se a participação fosse a cura de todos os nossos males, os males da política. Mas é uma forma, efetiva, de gerar potencial de ação, de interlocução, uma forma de fazer a política do diálogo e da clareza nos conflitos e ingerências. Quem está disposto a se revelar no discurso e a se realizar na ação? (Meu nome está aí em cima...e o seu?)

Abraços!

psiu. Fiquei interessado em saber quais são as "arenas potencialmente mais interessantes"...Você sabe? Blogs, talvez?

Sunday, August 06, 2006 5:42:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Participar como? Criando OnG? Entidades beneficentes? Para isso nao precisamos eleger políticos? O resto só é espetáculo na TV Senado, Globo, com o Ziraldo...
Diga-me como vc "participa" em 4 anos?

Monday, August 07, 2006 12:57:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

ops..."para isso nao precisamos eleger políticos". afirmacaoe nao pergunta! ;-)

Monday, August 07, 2006 1:07:00 AM  
Blogger miguw said...

Dizer que "nossos recursos não são escassos" parece coisa de manual de auto-ajuda. Vamos ser realistas e tentar ver o mundo como ele é. Vamos começar pelo pessimismo da inteligência, como dizia Romain Rolland (e todo mundo atribui a Gramsci), para a partir dele tentar construir o otimismo da vontade. A capacidade que as pessoas têm de mudar o mundo é limitada (se não o mundo não estava do jeito que está).

Se em vez de buscar formas de auto-organização efetivamente transformadoras a gente fica procurando produzir inserções subordinadas à margem do sistema, estamos desperdiçando recursos. Se passamos nossas vidas nos fóruns disso ou daquilo, preparando as conferências nacionais daquiloutro, para gerar o plano nacional de não sei o quê, bom, aí nós estamos é sendo cooptados...

Eu não acredito muito em "política do diálogo" não. (Nem em proatividade, empreendedorismo, sempre alerta, essas coisas...) Uma boa parte da política é enfrentamento, não diálogo; e existem situações em que não há diálogo possível.

De toda forma, meu nome está aí em cima, mais claro que o seu... Afinal, existe muito mais mateus do que miguw nesse mundo, certo?

Abraços.

Monday, August 07, 2006 3:12:00 AM  
Blogger miguw said...

PS.

Lê o post "Lições de Montesquieu e da Argentina", aí embaixo, que vai ficar mais claro (eu espero)!

Monday, August 07, 2006 4:31:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

miguw, vc arrasa!
suspiros..

Monday, August 07, 2006 2:46:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bem, tentemos novamente, sem procurar nem desqualificar o interlocutor nem tampouco idolatrar o atirador, como às vezes se vê nos comentários daqui...

Agradeço a gentileza dos comentários, Miguw.
Mas, ainda assim, a força do seu argumento não condiz com "extremeza" da sua opinião...

Não, não acho que vc vai encontrar essa idéia de que "nossos recursos não são escasso" em manuais de auto-ajuda. Talvez seja meramente uma forma (ou a mesma forma) de negação simples e pura da mesma asserção que vc fez no comentário acima. Se a negativa é "de auto-ajuda", porque a afirmação não seria? Ahhhh, sim, por que a negativa demonstra "esperança", que é coisa de auto-ajuda, né? É talvez...

Então, pra ficar mais auto-ajuda ainda, que tal essa máxima antiga:
"O pessimista reclama do vento
O otimista espera que ele mude
O realista ajusta as velas
"

Talvez o "que-vota-nulo" abandone o barco, né?! :o)

Mas, gostei da parte de "tentar construir o otimismo da vontade" e concordo com o fato (e não com a idéia) de que "a capacidade que as pessoas têm de mudar o mundo é limitada (se não o mundo não estava do jeito que está)". Que visão apocalíptica de fim dos tempos, hein?
Talvez o mundo esteja como está justamente por que mudou e melhorou muito, em vários aspectos (talvez não naqueles que VC esperava). Tá, tá...não tá mil maravilhas, mas, é pra estar?
E, fala sério, qual é o limite mesmo da capacidade das pessoas? Seriam os "recursos", já que "estamos desperdiçando recursos"?
Cara, na boa, teoria de movimento social como "mobilização de recursos" já tá "fora de moda", né? :o/
É essa a sua onda?

Fiquei triste, mas conformado com a sua descrença, Miguw, nas conferências e outros encontros do gênero...Será que você acredita que é só uma blá-blá-blá mesmo? E os encontros humanos que ocorrem, e a "política de corredor", e os acordos tácitos, e a "prática pedagógica" política, e a desinvisibilização (sim, uns poucos caras que nunca aparecem estão lá na conferência pelo menos pra "mostrar a cara") dos agentes? De nada vale isso?
Ahhh, esqueci que você não acredita na "política do diálogo e nem em proatividade, empreendedorismo, sempre alerta, essas coisas"...hehehe
Tudo bem que nem tudo é flor e cheiro bom na política, mas daí dizer que política do diálogo é alheia ao "enfrentamento" é ignorar completamente formas alterantivas de se fazer política (do diálogo) que não seja "no enfrentamento de posições de bancada", onde os interesses de uma maioria são (meros) enfraquecedores de interesses de minorias, ou de sujeitos apenas, que não têm sequer o poder de falar. Sem isonomia, sem mesa redonda, não há política, ao menos não essa (talvez nossa) política alternativa. E, quando não há diálogo possível, há violência, meu caro! E a violência, já dizia Hannah Arendt, acaba com o poder, pois é o interesse de Um sobre Todos e não mais o poder de Todos sobre Um (que a forma extrema de poder). Mas essa teoria velhaca você já deve estar careca de saber, né?

Por fim, não vou entrar mais na "brincadeira" de dar nomes aos bois, pois já vi que, tal qual um Zapatista qualquer, a máscara do Marcos lhe cai muito bem!
Prazer em lhe conhecer, Miguw!

Abraços políticos,
Mateus - o qualquer

psiu. Desculpe por não ler novamente o texto citado, das "Lições de Montesquieu e da Argentina", mas é que, cada vez que começo a ler e vejo o argumento que compara a importância do precesso eleitoral à importância da Gestapo tenho ânsia de vômito e paro de ler... ;-O

psiu2. Se a votação é uma "ilusão", como fazer para "desiludir" o eleitor? Acredito que seja fazendo ele "voltar à real" (percebendo a real dimensão de seu voto, por exemplo, e constatando que ele, a despeito de "valer" pouco para 4 anos, é decisivo e único para esses mesmos 4 anos - talvez a diferença entre termos PT ou PFL no governo) e não (usando o entendimento comum e errôneo da palavra, num mero jogo bobo e despretencioso) "desiludindo" o eleitor para o processo eleitoral (como vejo esse blog fazer)...

psiu3. Vou poupar vocês, por um tempo, de comentários gigantescos...não sei se a proposta é esse diálogo inusitado...mas agradeço o espaço...

Monday, August 07, 2006 8:23:00 PM  
Blogger miguw said...

simples assim: qualquer recurso é escassos. petróleo, água, energias sociais... o único recurso que não é escasso é a "força de vontade" nos manuais de auto-ajuda.

gostei de sua referência aos "encontros humanos" nas conferências patrocinadas pelo Estado. coquetel é bom mesmo. aliás, devia ser para todos! com direito a canapé sem gosto, vinho vagabundo e encontros humanos nos cantinhos escuros!

pra terminar: o idealismo de Arendt sobre a política é o portão de entrada do conformismo.

Tuesday, August 08, 2006 3:41:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

Só vi a "energia social" (que categoria é essa?) se esvair uma vez: no totalitarismo...

Nem na nossa humilde ditadura isso aconteceu, né?

A "energia social" acaba quando acaba a possibilidade do encontro, da pluralidade, da política. Se ainda há quem se encontre, quem dialogue, quem faça política, então ainda haverá "energia social"?
(sera que estou entendendo bem sua categoria?)

Mas não consigo ler Arendt como vc...Não me conformo! :o)

Vamos ao próximo texto, né?

Tuesday, August 08, 2006 4:11:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

cara vê se entende o que o miguw tá dizendo. o dia só tem 24 horas. o seu blablablá não faz com q ele fique com 25. isso quer dizer, que se a gente faz uma coisa não faz outra.

Wednesday, August 09, 2006 3:38:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

ainda mais quando você gasta metade dessas horas na internet

Thursday, August 10, 2006 6:05:00 AM  

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