Wednesday, May 26, 2010

Hã?

Em meio às atribulações cotidianas, eis que ressurge o espectro que ronda e atormenta os defensores das instituições formais e legitimadoras dos poderes por hora constituídos.

Perdem-se anos sem a continuidade dessa atividade, nada mais que fruto das instruções repassadas dia-a-dia. Pouco essa entidade aproveitou dos ensinamentos de Tocqueville. Cai, portanto, no cotidiano de todo cidadão e se revela apenas nos momentos em que oficialmente faz-se a chamada à nobre atividade de apertar um botão.

Pela pouca inventividade dessa entidade para se autonomear e sem assuntos divertidos para vos entreter, apela então à tergiversação mal feita e mal acabada para tomar a palavra novamente e entediar o eleitor até que ele faça a escolha certa nas próximas eleições: NENHUMA.

Friday, April 30, 2010

Hibernar por quatro anos?

Sim, hibernamos! Mas não por nossa vontade. Aqueles que simpatizam com nossa proposta devem ter notado a milionária campanha do TSE nas últimas eleições contra o voto nulo. Porém, o que vocês não sabem é que parte dessa campanha sórdida, bancada com o nosso dinheiro, financiou uma rede de espiões. Nossa história recente foi feita de perseguição, sigilos bancários violados, prisões, exílios em resorts europeus de alto custo. Se você em algum momento admitiu votar nulo em público, CUIDADO, seu telefone provavelmente está grampeado.

Infelizmente, tive que me exilar numa estação de esqui na Suíça. Antes, passei também por Luxemburgo, Andorra, Mônaco e Tuvalu. Os litros de vinho, os quilos de chocolate de alta qualidade, a abundância de modelos desfilando pela rua, nada foi capaz de me fazer esquecer da minha missão: propagar o voto nulo em meu país. Meus colegas estão desaparecidos também. Informações não oficiais indicam que "Miguw" fez uma plástica e mudou de sexo. Ouvi dizer que ele está morando em Quixeramobim, anda como um manco(a) e atende pelo pseudônimo de "Odete". "Anulados" foi para Cuba, tentar disseminar o voto nulo na ilha, mas por motivos desconhecidos, não obteve sucesso. Ao que parece, embarcou semana passada para a Coreia do Norte.

O Estado finalmente persebeu o perigo subversivo que nosso movimento representava. Ainda assim, nosso blog é o primeiro da lista do google quando alguém procura por blogs sobre votos nulos! Nosso movimento nunca esteve tão vivo! E agora, para as eleições de 2010 estamos de volta. É impressionante como nosso lema ainda mantém atualidade. Se no passado, alguns ainda vislumbravam diferenças entre os candidatos de então, agora fica difícil emplacar a tese novamente na disputa Dilrra e Selma, digo, Serra e Dilma. Quem vai ganhar o troféu de miss/mister simpatia esse ano? Tenho certeza que será o maior campeão eleitoral dos últimos tempos: O Voto Nulo.

Tuesday, November 14, 2006

A luta continua

Passadas as eleições, arrefecidas as esperanças vãs dos militantes iludidos, todos nós conscientes de que, no sistema atual, não importa como votamos, somos todos nulos, surge a questão: que fazer? Que rumo dar para este blog que, há meses, brilha na escuridão da inteligência brasileira como um farol tremulante de 25 watts?

Hibernar por quatro anos?

Gerar uma ONG para o empoderamento eleitoral das populações ribeirinhas do baixo Bragueto, um ação de empreendedorismo social que, graças ao financiamento da social-democracia austríaca e da democracia-cristã paquistanesa, nos garantirá um lugar ao sol do Terceiro Setor, com todos os benefícios daí advindos (a consciência tranqüila, a certeza de fazer o Bem, o coração leve, um carro do ano, convites para congressos em resorts internacionais e muitas garrafas de uísque 12 anos)?

Vender nossa expertise para um escritório de consultoria qualquer e ajudar a fazer de Roberto Requião nosso próximo presidente?

Creio que não. Nosso caminho, agora, é aprofundar a meta-genealogia críptica do poder, sem negar o núcleo sistêmico sublimado do capital monopolista edipiano, compreendendo o enlace em rede da energia libidinal pós-materialista com a maiêutica da narrativa paradigmática e desconstruindo a opressão simbólica da alteridade globalizada, que a hexis cibernética impôs - em suma, uma pós-crítica radical da episteme estruturante, e tudo isso ao revés.

E, como diria aquele sábio, nosso inspirador: "That's all, folks!"

Tuesday, October 31, 2006

Depois da posse

Diálogo com um eleitor lulista, no final de janeiro ou começo de fevereiro de 2007:

- A política econômica é a mesma,
essa eu não engulo!
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- Jader Barbalho ministro da justiça,
agora eu fiquei fulo!
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- Congelaram os salários,
vou me esconder em algum casulo.
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- Concessão pro agronegócio,
esse governo é muito chulo.
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- Delfim Netto na agricultura,
tão achando que sou um mulo?
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- Um escândalo por dia,
de raiva e espanto eu ululo.
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- O poder nunca me escuta
se eu falo ou gesticulo.
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- Na minha mente só pragas
e arrependimentos eu formulo.
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- Que lástima: às forças do atraso
com meu voto eu me vinculo!
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- Deste governo para o PFL,
sem brincadeira, é um pulo.
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

- A cada dia que passa
mais tristeza eu acumulo.
- Entendo, amigo - eu respondo -
mas veja: eu votei nulo.

Monday, October 30, 2006

Comentário Sobre o Resultado Eleitoral

Como a Ana propôs, aqui vão alguns comentários sobre os resultados eleitorais (citados a seguir):

Abstenção: 23.914.242 (18.99%)
Comparecimento: 101.997.079 (81.01%)
Votos: 101.997.079
Votos brancos: 1.351.442 (1.32%)
Votos nulos: 4.808.489 (4.71%)

Muitos autores falaram sobre participação política, mas agora é hora de calcular a "taxa de não-participação" (sempre quiz escrever algo que usasse muitos números, então aguentem). Para obter a taxa de não participação (TxNP), deve-se somar a quantidade de abstenções (QtA) com os votos Brancos (QtB) e nulos (QtN), e dividir o resultado pela população votante (NóIs), que é igual a QtA mais o comparecimento (C). Assim:

TxNP = (QtA + QtB + QtN)/NóIs
TxNP = 30074173/125911321
TxNP = 23,88% = 30074173*

A conclusão só poderia ser uma: a partir da próxima semana, o acesso a este blog será pago, pois a população que vota nulo, branco ou não se dá ao trabalho de ir votar constitui um mercado em potencial! E tenho dito**.

_________

* para saber porque eu não simplesmente somei QtA, QtB, QtN, consulte o livro "Como fazer de um comentário banal um artigo científico reconhecido" de Mancur Olson.
** E aí Miguw, dá pra publicar este artigo?

Saturday, October 21, 2006

A qualidade que falta

Nessa altura do campeonato, já ficou claro que a principal virtude da competição política é dar o circo ao povo, já que o pão é escasso. Não quero ser injusto. A atual campanha tem nos brindado com alguns momentos bacanas, como as trapalhadas repetidas do PT ou o glorioso FHC tentando desesperadamente puxar o tapete do candidato que apóia. Mas os dois protagonistas são fracos. Falta talento tanto a Lula quanto a Alckmin. Assistir aos debates na TV é quase tão empolgante quanto ler as obras completas do Habermas.
Sinto saudade dos momentos gloriosos do passado. Cadê as tiradas de Brizola, que faziam até os adversários caírem na gargalhada? Cadê aquela baixaria boa, escrachada?
Lembro com particular carinho de um bate-boca entre Quércia e Ciro Gomes, acho que foi em 1994. Ciro era fernandista na época - e Quércia, bem, Quércia era quercista. (Hoje ambos são lulistas, vejam só!) Ciro deu uma entrevista chamando Quércia de "porca prenha". Quércia respondeu: "Ele estava de brinco quando falou isso? Porque depois do expediente ele tira o terno e coloca brinco".
Existe algo na campanha de 2006 que se aproxime disso? Não. Teleguiados por marketeiros pusilânimes, os candidatos tresandam moderação, equilíbrio, racionalidade. Despiram a campanha eleitoral de sua última virtude, a de nos divertir.
(Se alguém comprovar o contrário, ganha uma assinatura vitalícia deste blog.)

Tuesday, October 17, 2006

Voto Nulo: remédio para Geraldofobia

Não há mais de 15 anos atrás eu vesti vermelho e gritei 13 em meio a uma multidão de petistas! Tinha eu 7 anos de idade (eu disse SETE anos) e minha mãe, militante, já me catequizara sem dó nem piedade. Assim, cresci esperando o dia em que pudesse votar no Lula. Aos 14, torcia pela eleição do PT como se estivesse vendo uma empolgante corrida de cavalos (na verdade estava vendo mesmo). Porém, já aos 16, percebi que o Lula que eu admirava (talvez porque me lembrasse o papai Noel) não era mais o mesmo.

Por ter me tornado um adolescente militante (eca!) concluí que ele havia "se vendido". A partir daí, convenci muitos "companheiros" de que o companheiro-mor já não era tão companheiro assim. Pouco depois optei pelo voto de protesto, primeiro passo para atualmente desembocar no voto nulo, opção cidadã.

Porém, hoje vejo muito ex-lulista como eu com a intenção de votar no Lula para barrar o Geraaaaaldo. Só gostaria de lembrar que votar no anti-Geraaaaldo é atestar para os políticos que "se vender" realmente funciona! Óbvio que votar já é um ato abominável, mas voltar a votar no Lula é o mesmo que dizer: "É isso aí companheiro, você está indo muito bem. Continue assim". Infelizmente, um dos dois vai ganhar e vai ficar se gabando que o povo quis isso. Porém, se alguém tem obrigação de não votar no Lula são os ex-lulistas, principalmente os com geraldofobia! E são estes que estão voltando atrás!

Sei que raramente escrevo tão sério nesse blog. Mas a onda de ex-lulista votando no Lula me obrigou a falar sério!

PS.: Além disso, gostaria de que alguém me apontasse as diferenças substantivas entre os dois que fossem capazes de justificar uma escolha.

Monday, October 16, 2006

Retificação

Retificando o excelente texto do Miguw, é preciso dizer que a mesma matéria do mencionado jornal também citou uma grande vitória para nós:
"O brasileiro não teve a mesma paciência para o Legislativo federal. O número de nulos cresceu 66%, e o de brancos, 34%. Assim, o bloco de votos não válidos em relação ao total passou de 7,6% para 11,1%. Nos principais Estados do país o voto de protesto para deputado federal foi mais forte. No Rio de Janeiro, os nulos cresceram 127% e os brancos 63%. Em São Paulo, esses números foram, respectivamente, de 109% e 27%. Em termos absolutos, quase 4,5 milhões de eleitores a mais optaram por votar nulo ou branco para deputado federal."

Questão de fé

A Folha de hoje traz matéria comemorando o baixo número de votos nulos no primeiro turno. Mesmo com a putrefação do sistema aos olhos de todos, só 4,8% dos eleitores anularam o voto para a Câmara dos Deputados. (Somados com os brancos, são 11,1%.)
Daí se ouvem os cientistas políticos... Um deles é o mais enfático. Nem vou citar o nome do Carlos Ranulfo, da UFMG, porque podia ser qualquer um. "Creio que estamos diante de uma boa notícia", diz ele. "Felizmente, para a democracia brasileira, as pessoas continuam acreditando que o melhor é escolher alguém, ainda que, em muitos casos, essa escolhe se realize na última hora e com base em pouca informação".
É bom para a democracia por quê? Uma escolha desinformada ajuda em que à democracia? Depende do que entendemos por democracia. Se é só um jeito de legitimar qualquer governo, sem que o povo indique qualquer rumo à construção de um projeto de sociedade, como queria Schumpeter, tudo bem. Mas se a gente imagina algo mais consistente, em que o valor da autonomia coletiva esteja presente, então esse voto não acrescenta nada.
É claro que a escolha bem informada, no sistema que temos, também não acrescenta coisa alguma. No final das contas, a "ciência" política gira em torno de uma questão de fé. A fé de que o voto é bom. A fé de que a eleição é democrática. Não há nenhuma evidência de que isso seja verdade - e muitas de que seja uma grossa inverdade. Mas a fé não se abala com isso. E os cientistas políticos daqui continuam seguindo os grandes gurus, os místicos desta fé, os Sartori, Huntington, Putnam, Lipset, Downs et caterva.
PS. É claro que posso estar sendo injusto com Ranulfo. Não sei o que ele falou, só o que saiu no jornal. E, a gente sabe, raciocínios complexos e textos da imprensa são como azeite e água.

Saturday, October 14, 2006

Três visões poéticas

1 - Rainer Maria Rilke

sobre a similaridade entre nossas "opções "

Quem, se eu gritasse,
entre as legiões de anjos
diferenciaria Lula e Alckmin?

2 - Titãs

sobre aqueles que agora querem votar anti-Alguém

O segundo turno me deixou burro
muito burro demais

(Titãs, no início, se chamavam Titãs do Iê-Iê-Iê! Muito mais bacana.)

3 - Fernando Pessoa

sobre a mistificação que é tudo isso

O sistema representativo é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é o eleitor
Quem escolhe o presidente