Sunday, July 23, 2006

A tese do "pontinho vermelho"

Tem gente que diz assim: voto nulo não diz nada. Vota nulo quem vota errado, vota nulo quem entra bêbedo na cabine de votação, vota nulo quem não quer eleição porque é fascista. Eu, não. Eu vou marcar meu voto com um "pontinho vermelho". Vou votar em alguém da esquerda, que não vai ganhar, só pra mostrar que é pela esquerda que está minha indignação.
E daí a criatura pega e vai votar na Heloísa Helena.
Mas... a gente quer mesmo que a Heloísa Helena apareça de agora em diante como a porta-voz do descontentamento com a política no Brasil? Como a porta-voz de uma posição radicalmente transformadora? Do mesmo jeito que foi o Lula, por tantos anos?
Eu acho que não... Não vou votar para ampliar o capital político da Heloísa Helena, para que ela passe os próximos quatro anos (e sei lá mais quantos) falando por mim. Porque não acho que ela, especificamente, me represente de maneira adequada. E, sobretudo, porque todo esse mecanismo de representação, que me cala, deve ser repensado.
E tem mais. O meu "pontinho vermelho" legitima o processo eleitoral como mecanismo de participação popular (novos risos incontroláveis da platéia). Parece que eu estou apenas esperando o momento em que a Heloísa Helena vai ter a maioria, e aí (como dizia aquele antigo filme italiano) a classe operária vai ao paraíso. Que nem foi com o Lula, aliás.
Meu protesto não pega catapora não. Voto nulo é a única opção...

Wednesday, July 05, 2006

Votos nulos que fizeram história: Macaco Tião

Desde os primórdios da história nacional, a opção consciente pelo voto nulo marca os grandes momentos da democracia brasileira. Quem não lembra do saudoso "Macaco Tião", representante da fauna encarcerada do Rio de Janeiro. Este mártir foi terminantemente proibido de participar do pleito para prfeito. Sua plataforma de campanha exigia das elites brasileiras a verdadeira universalização do sufrágio, expandindo-o para todos os primatas. Terminou açoitado num zoológico insalubre. Porém, macaco Tião não descansou! Organizou grandes protestos solitários, em que atirava excrementos nos retrógrados políticos brasileiros, tornando-os mais fétidos ainda. Seus protestos fizeram com que o eleitorado brasileiro reconhecesse os esforços do chimpanzé patriota, dando a este paladino das causas animais uma enorme soma de votos. Macaco Tião estava eleito, honrando finalmente a memória de seu mentor intelectual: o rinoceronte cacareco, candidato a vereador mais votado em São Paulo no ano de 1958 com mais 90 mil votos. Mas Tião não teve um fim diferente de seu companheiro. Com aproximadamente 10% dos votos totais para prefeito, foi proibido de concorrer ao segundo turno para prefeito do Rio. No dia 23 de dezembro de 1996, morreu Tião, o chimpanzé mais querido do Brasil. Decorrente de complicações referentes à diabetes e a avançada idade. César Maia, prefeito da cidade e afilhado político de Tião, decretou luto oficial até o dia 31 de dezembro e as bandeiras da Fundação RioZoo ficaram a meio-mastro. Pouco depois, seus opositores implantaram no país o voto eltrônico que coibiu a eleição de revolucionários como Tião.

Monday, July 03, 2006

Voto nulo não vale nada. Os outros também não

Circula por aí um argumento jurídico contra o voto nulo. Ele explica que, ao contrário do que dizem, 50% + 1 de votos nulos não anulam a eleição. O voto nulo, enfim, não serve pra nada. O único caminho, prega nosso bom samaritano - não vou citar o nome porque, nessas coisas que circulam por e-mail, a autoria é sempre incerta -, é o "voto consciente". (Risos incontroláveis.)

Não é preciso de tanto latim para reconhecer: o voto nulo não vale nada. Pelo simples fato de que seu voto não vale nada, seja em Lula, em Alckmin, em Heloísa Helena, nulo, branco, verde ou cor-de-rosa. Ele não vale nada porque:

- é um em milhões;

- aqueles que são eleitos não têm nenhum compromisso com quem votou neles (e a estes não resta outra alternativa a não ser esperar, feito carneirinhos, quatro anos passarem, para ser enganados outra vez);

- na hora do vamos-ver, o que vale é o financiamento de campanha, o cheque polpudo, o esquema bem armado, não o seu mísero votinho.

Só existem duas alternativas: colocar o nariz de palhaço e legitimar o circo da "representação democrática" (não se ofendam, meu nariz de palhaço está desgastado pelo uso) ou dizer que não. Esse "não" vai comover alguém da nossa elite política? Não. No máximo, alguns vão se reunir a cientistas políticas em debates na GloboNews, todos compungidamente hipócritas, para lamentar o atraso de nosso povo. Mas resta a satisfação interior de não ter sido enganado mais uma vez.