Amar é a solução?
Não, não estou inaugurando uma seção "pílulas de sabedoria". Nem entrando no ramo da auto-ajuda. Nem me converti ao cristianismo. Nem estou pregando o amor livre.
Aqui nesse blog só tem política, véio... e o Amar em questão é o Akhil Reed Amar, um pensador americano, eu acho. Pelo nome, deve ser americano - ô sociedade multicultural. E eu estou chamando o cara de pensador, mas, que eu saiba, ele só escreveu um artigo. Mas tudo bem, certo? Gabriel não escreveu nem isso e é O Pensador, porque o Amar não pode ser?
O artigo do Amar se chama "Choosing representatives by lottery voting", o que, meus queridíssimos leitores monoglotas, quer dizer "choças representativas de lotes votivos". Ou, então, escolhendo representantes por votação lotérica. Saiu no Yale Law Journal, ou seja, é coisa fina. Como bom colonizado, eu leio a palavra "Yale" e já entro em êxtase. Supondo que sei que é uma universidade e não uma marca de fechaduras.
Amar parte de uma constatação óbvia: o voto não vale nada. Pode parecer coisa de teoria da escolha racional, mas é simples matemática. Se tem meia dúzia de candidatos à presidência, só dois concorrendo de verdade, e um universo de cento e cacetada milhões de eleitores, a gente faz uma regra de três simples, aplica uma raiz quadrada, retira a hipotenusa, acrescenta o duodeno e chega à conclusão de que seu voto ter impacto no resultado é mais difícil do que ganhar o prêmio principal da Mega-Sena sem ter apostado. Isso faz com que todo mundo se desestimule. Se meu candidato está na frente, não tem sentido eu perder meu tempo votando. Se está atrás, a mesma coisa.
Então ele propõe o seguinte: misturar eleição com sorteio. Eu voto num deputado e cada voto que ele recebe é como se fosse um bilhete de loteria. Depois, é feito um sorteio. O candidato que teve 32% dos votos tem 32% de chances de ser sorteado, por exemplo. Com isso, cada voto realmente tem algum peso. Meu voto num candidato minoritário não é desperdício: ele tem alguma oportunidade de ser sorteado, uma oportunidade a mais com meu voto.
Com isso, continua Amar, temos duas conseqüências importantes. Primeiro, uma minoria de, digamos, 45% da população não está condenada a ficar sem representante 100% do tempo. E, depois, alguém que conte com 50% + 1 dos votos não está autorizado a desprezar os interesses do restante do eleitorado: vai ter incentivo para conquistar outros corações e mentes.
Além do quê, no final das contas, podemos esperar uma proporcionalidade bem razoável. Se um candidato do partido X foi sorteado com poucos votos em, sei lá, Santo André ou Sertânia, isso é compensado em Ji-Paraná ou em Praia Grande, onde o mesmo partido teve mais votos e não foi sorteado.
É um modelo bem elaborado; quem quiser detalhes, busca o artigo no ProQuest ou então vê um resumo em português que saiu no meio de um texto da revista Lua Nova, se não estou enganado...
Mas Amar é a solução? Não creio. Ele comunga da crença que mudar o sistema eleitoral resolve nossos problemas, enquanto isso é apenas a ponta do iceberg. Contudo, é interessante observar que existem alternativas. É possível ousar pensar em formas radicalmente novas de organizar a política. Não estamos condenados ao que hoje temos.
Aqui nesse blog só tem política, véio... e o Amar em questão é o Akhil Reed Amar, um pensador americano, eu acho. Pelo nome, deve ser americano - ô sociedade multicultural. E eu estou chamando o cara de pensador, mas, que eu saiba, ele só escreveu um artigo. Mas tudo bem, certo? Gabriel não escreveu nem isso e é O Pensador, porque o Amar não pode ser?
O artigo do Amar se chama "Choosing representatives by lottery voting", o que, meus queridíssimos leitores monoglotas, quer dizer "choças representativas de lotes votivos". Ou, então, escolhendo representantes por votação lotérica. Saiu no Yale Law Journal, ou seja, é coisa fina. Como bom colonizado, eu leio a palavra "Yale" e já entro em êxtase. Supondo que sei que é uma universidade e não uma marca de fechaduras.
Amar parte de uma constatação óbvia: o voto não vale nada. Pode parecer coisa de teoria da escolha racional, mas é simples matemática. Se tem meia dúzia de candidatos à presidência, só dois concorrendo de verdade, e um universo de cento e cacetada milhões de eleitores, a gente faz uma regra de três simples, aplica uma raiz quadrada, retira a hipotenusa, acrescenta o duodeno e chega à conclusão de que seu voto ter impacto no resultado é mais difícil do que ganhar o prêmio principal da Mega-Sena sem ter apostado. Isso faz com que todo mundo se desestimule. Se meu candidato está na frente, não tem sentido eu perder meu tempo votando. Se está atrás, a mesma coisa.
Então ele propõe o seguinte: misturar eleição com sorteio. Eu voto num deputado e cada voto que ele recebe é como se fosse um bilhete de loteria. Depois, é feito um sorteio. O candidato que teve 32% dos votos tem 32% de chances de ser sorteado, por exemplo. Com isso, cada voto realmente tem algum peso. Meu voto num candidato minoritário não é desperdício: ele tem alguma oportunidade de ser sorteado, uma oportunidade a mais com meu voto.
Com isso, continua Amar, temos duas conseqüências importantes. Primeiro, uma minoria de, digamos, 45% da população não está condenada a ficar sem representante 100% do tempo. E, depois, alguém que conte com 50% + 1 dos votos não está autorizado a desprezar os interesses do restante do eleitorado: vai ter incentivo para conquistar outros corações e mentes.
Além do quê, no final das contas, podemos esperar uma proporcionalidade bem razoável. Se um candidato do partido X foi sorteado com poucos votos em, sei lá, Santo André ou Sertânia, isso é compensado em Ji-Paraná ou em Praia Grande, onde o mesmo partido teve mais votos e não foi sorteado.
É um modelo bem elaborado; quem quiser detalhes, busca o artigo no ProQuest ou então vê um resumo em português que saiu no meio de um texto da revista Lua Nova, se não estou enganado...
Mas Amar é a solução? Não creio. Ele comunga da crença que mudar o sistema eleitoral resolve nossos problemas, enquanto isso é apenas a ponta do iceberg. Contudo, é interessante observar que existem alternativas. É possível ousar pensar em formas radicalmente novas de organizar a política. Não estamos condenados ao que hoje temos.
13 Comments:
O primeiro parágrafo desse post fala de amor livre. O do post anterior, de Helena de Tróia.
O link entre uma coisa e outra se chama Charles Fourier.
Quem acertar o porquê, ganha um kit-voto do Maluf (um clipe e dois chicletes).
not so fast...
daranda, taí o amor livre. e a helena de tróia?
meio clipe e um chiclete.
Será q a Heloísa Helena é uma pegadora e eu nao tou sabendo?! hahahah
Ela pegou o Fourier tb?! ó céus!
Miguw, eu sei quem você é!!!!
Ow, responde meus e-mails!
Beijinhos
Será que uma eleição é anulada por maioria de votos nulos? Estou com essa dúvida...
queseieudoque.blogspot.com
miguw, cadê vc? eu vim aqui só pra te ver!
acho que dá na mesma fazer campanha por voto nulo alegando que voto não vale nada e pedir voto pro maluf.
acontece que as pessoas percebem diferenças do governo lula para o de fhc, e se sentem participantes dessas mudanças
quá quá quá quá quá
meu xará anônimo disse mesmo que "as pessoas percebem diferenças do governo lula para o de fhc"? puxa... teve um bolsa-microscópio eletrônico pro povo ver essas diferenças?
e as pessoas "se sentem participantes dessas mudanças"? eu não! quero participar! mensalão pra mim também!
(às vezes penso que tudo é igual desde vera cruz...)
Poxa, cara, as coisas mudam sim.
tudo igual desde vera cruz? aposto que vc não é negro pra falar assim.
Tudo bem que negros ainda ganham menos que brancos para os mesmos empregos, que têm dificuldade de ingresso em faculdades e tudo mais, mas o simples fato de não ser considerado legal "possuir" outra pessoa e fazer com ela o que bem quiser já significa que algo mudou.
não somos nenhuma terra da liberdade como os americanos gostam de chamar o seu pedaço de chão, mas dizer que nada muda é meio cretino demais pra minha cabeça.
Mudanças ocorrem e os políticos eleitos têm sim um percentual de responsabilidade nisso.
mudam, sim, você tem razão, mas parece que estão mudando meio devagar...
já que ainda temos que comemorar a abolição da escravatura. (sem falar dos limites da própria lei áurea...)
os políticos eleitos têm um grande percentual de responsabilidade nisso, não acha?
Bom, eis a resposta...
Fourier julgava que a história humana era marcada por quatro maçãs. Duas para o bem (a de Isaac Newton e a sua, que não convém explicar agora) e duas para o mal: a de Adão e Eva e o pomo da discórdia, que era o prêmio do concurso de miss entre as deusas do Olimpo.
Ora, o juiz do concurso era um humano, o troiano Páris, que, corrompido, decidiu que a vencedora seria Afrodite - que lhe prometera, em troca, a mulher mais linda da Grécia, Helena. Então, Páris raptou Helena, o que motivou os aqueus a iniciarem a guerra contra Tróia.
E Fourier também pregava o amor livre, como disse Dandarina (ela não é o máximo?). Quer dizer, não era tão livre assim, era regulado. Fourier defendia a regra pela qual as pessoas bonitas deviam transar eventualmente com as feias, a fim de incrementar a igualdade no prazer físico. É uma coisa bizarra, mas os feios sempre simpatizam com a idéia...
Fourier é o máximo mesmo! Ele era feio?
Se sim, defendeu muito bem seus interesses ;-)
Pois é, nada serve de parâmetro. Antes era Ptista, acreditava mesmo, defendia as idéias, os pensamentos. Meu Deus, quanta alienação. Como fizeram a cabeça da gente durante 20 anos!! Companheiros que fugiram da cadeia na ditadura, agora se aproximam dela na democracia. Em que acreditar. O voto nulo é um berro. Esta dizendo: Abram o olho, politicada.
As coisas mudaram, a tecnologia esta pegando todos. As informações ficam registradas. A lembrança do povo pode ser acessada por um site de busca.
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