Thursday, August 17, 2006

Amar é a solução?

Não, não estou inaugurando uma seção "pílulas de sabedoria". Nem entrando no ramo da auto-ajuda. Nem me converti ao cristianismo. Nem estou pregando o amor livre.

Aqui nesse blog só tem política, véio... e o Amar em questão é o Akhil Reed Amar, um pensador americano, eu acho. Pelo nome, deve ser americano - ô sociedade multicultural. E eu estou chamando o cara de pensador, mas, que eu saiba, ele só escreveu um artigo. Mas tudo bem, certo? Gabriel não escreveu nem isso e é O Pensador, porque o Amar não pode ser?

O artigo do Amar se chama "Choosing representatives by lottery voting", o que, meus queridíssimos leitores monoglotas, quer dizer "choças representativas de lotes votivos". Ou, então, escolhendo representantes por votação lotérica. Saiu no Yale Law Journal, ou seja, é coisa fina. Como bom colonizado, eu leio a palavra "Yale" e já entro em êxtase. Supondo que sei que é uma universidade e não uma marca de fechaduras.

Amar parte de uma constatação óbvia: o voto não vale nada. Pode parecer coisa de teoria da escolha racional, mas é simples matemática. Se tem meia dúzia de candidatos à presidência, só dois concorrendo de verdade, e um universo de cento e cacetada milhões de eleitores, a gente faz uma regra de três simples, aplica uma raiz quadrada, retira a hipotenusa, acrescenta o duodeno e chega à conclusão de que seu voto ter impacto no resultado é mais difícil do que ganhar o prêmio principal da Mega-Sena sem ter apostado. Isso faz com que todo mundo se desestimule. Se meu candidato está na frente, não tem sentido eu perder meu tempo votando. Se está atrás, a mesma coisa.

Então ele propõe o seguinte: misturar eleição com sorteio. Eu voto num deputado e cada voto que ele recebe é como se fosse um bilhete de loteria. Depois, é feito um sorteio. O candidato que teve 32% dos votos tem 32% de chances de ser sorteado, por exemplo. Com isso, cada voto realmente tem algum peso. Meu voto num candidato minoritário não é desperdício: ele tem alguma oportunidade de ser sorteado, uma oportunidade a mais com meu voto.

Com isso, continua Amar, temos duas conseqüências importantes. Primeiro, uma minoria de, digamos, 45% da população não está condenada a ficar sem representante 100% do tempo. E, depois, alguém que conte com 50% + 1 dos votos não está autorizado a desprezar os interesses do restante do eleitorado: vai ter incentivo para conquistar outros corações e mentes.

Além do quê, no final das contas, podemos esperar uma proporcionalidade bem razoável. Se um candidato do partido X foi sorteado com poucos votos em, sei lá, Santo André ou Sertânia, isso é compensado em Ji-Paraná ou em Praia Grande, onde o mesmo partido teve mais votos e não foi sorteado.

É um modelo bem elaborado; quem quiser detalhes, busca o artigo no ProQuest ou então vê um resumo em português que saiu no meio de um texto da revista Lua Nova, se não estou enganado...

Mas Amar é a solução? Não creio. Ele comunga da crença que mudar o sistema eleitoral resolve nossos problemas, enquanto isso é apenas a ponta do iceberg. Contudo, é interessante observar que existem alternativas. É possível ousar pensar em formas radicalmente novas de organizar a política. Não estamos condenados ao que hoje temos.

13 Comments:

Blogger miguw said...

O primeiro parágrafo desse post fala de amor livre. O do post anterior, de Helena de Tróia.

O link entre uma coisa e outra se chama Charles Fourier.

Quem acertar o porquê, ganha um kit-voto do Maluf (um clipe e dois chicletes).

Saturday, August 19, 2006 8:49:00 AM  
Blogger miguw said...

not so fast...

daranda, taí o amor livre. e a helena de tróia?

meio clipe e um chiclete.

Sunday, August 20, 2006 2:52:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

Será q a Heloísa Helena é uma pegadora e eu nao tou sabendo?! hahahah
Ela pegou o Fourier tb?! ó céus!

Sunday, August 20, 2006 6:38:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

Miguw, eu sei quem você é!!!!

Ow, responde meus e-mails!

Beijinhos

Sunday, August 20, 2006 4:12:00 PM  
Blogger João Pedro said...

Será que uma eleição é anulada por maioria de votos nulos? Estou com essa dúvida...
queseieudoque.blogspot.com

Tuesday, August 22, 2006 2:37:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

miguw, cadê vc? eu vim aqui só pra te ver!

Tuesday, August 22, 2006 3:48:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

acho que dá na mesma fazer campanha por voto nulo alegando que voto não vale nada e pedir voto pro maluf.

acontece que as pessoas percebem diferenças do governo lula para o de fhc, e se sentem participantes dessas mudanças

Tuesday, August 22, 2006 5:22:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

quá quá quá quá quá

meu xará anônimo disse mesmo que "as pessoas percebem diferenças do governo lula para o de fhc"? puxa... teve um bolsa-microscópio eletrônico pro povo ver essas diferenças?

e as pessoas "se sentem participantes dessas mudanças"? eu não! quero participar! mensalão pra mim também!

(às vezes penso que tudo é igual desde vera cruz...)

Tuesday, August 22, 2006 7:28:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

Poxa, cara, as coisas mudam sim.

tudo igual desde vera cruz? aposto que vc não é negro pra falar assim.

Tudo bem que negros ainda ganham menos que brancos para os mesmos empregos, que têm dificuldade de ingresso em faculdades e tudo mais, mas o simples fato de não ser considerado legal "possuir" outra pessoa e fazer com ela o que bem quiser já significa que algo mudou.

não somos nenhuma terra da liberdade como os americanos gostam de chamar o seu pedaço de chão, mas dizer que nada muda é meio cretino demais pra minha cabeça.

Mudanças ocorrem e os políticos eleitos têm sim um percentual de responsabilidade nisso.

Tuesday, August 22, 2006 9:58:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

mudam, sim, você tem razão, mas parece que estão mudando meio devagar...

já que ainda temos que comemorar a abolição da escravatura. (sem falar dos limites da própria lei áurea...)

os políticos eleitos têm um grande percentual de responsabilidade nisso, não acha?

Tuesday, August 22, 2006 4:02:00 PM  
Blogger miguw said...

Bom, eis a resposta...

Fourier julgava que a história humana era marcada por quatro maçãs. Duas para o bem (a de Isaac Newton e a sua, que não convém explicar agora) e duas para o mal: a de Adão e Eva e o pomo da discórdia, que era o prêmio do concurso de miss entre as deusas do Olimpo.

Ora, o juiz do concurso era um humano, o troiano Páris, que, corrompido, decidiu que a vencedora seria Afrodite - que lhe prometera, em troca, a mulher mais linda da Grécia, Helena. Então, Páris raptou Helena, o que motivou os aqueus a iniciarem a guerra contra Tróia.

E Fourier também pregava o amor livre, como disse Dandarina (ela não é o máximo?). Quer dizer, não era tão livre assim, era regulado. Fourier defendia a regra pela qual as pessoas bonitas deviam transar eventualmente com as feias, a fim de incrementar a igualdade no prazer físico. É uma coisa bizarra, mas os feios sempre simpatizam com a idéia...

Sunday, August 27, 2006 9:56:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

Fourier é o máximo mesmo! Ele era feio?
Se sim, defendeu muito bem seus interesses ;-)

Monday, August 28, 2006 4:17:00 AM  
Blogger DVD said...

Pois é, nada serve de parâmetro. Antes era Ptista, acreditava mesmo, defendia as idéias, os pensamentos. Meu Deus, quanta alienação. Como fizeram a cabeça da gente durante 20 anos!! Companheiros que fugiram da cadeia na ditadura, agora se aproximam dela na democracia. Em que acreditar. O voto nulo é um berro. Esta dizendo: Abram o olho, politicada.
As coisas mudaram, a tecnologia esta pegando todos. As informações ficam registradas. A lembrança do povo pode ser acessada por um site de busca.

Tuesday, September 26, 2006 7:55:00 AM  

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