Voto nulo, de novo (ou Até os fortes fraquejam)
Terminado o primeiro turno. Maluf campeão de votos, Clodovil deputado anunciando que vai se vender pro melhor mensalão que encontrar. A disputa eleitoral mostra todas suas virtudes, fazendo de Fernando Collor nosso novo senador. Sarney, Palocci, Genoíno, Russomano, Pudim: toda a alegria que sentimos ao ler a lista dos derrotados se esvai quando passamos para a lista dos vitoriosos.
Mas a atenção está na disputa presidencial. De repente, os alckministas estão chegando. Oh, pânico! Nessa hora, muitos de nós parecem esquecer tudo o que estamos ensinando e voltam, desesperados, para os braços da urna eletrônica (urna tem braço?), pensando em escolher o menos pior.
Espantei-me ao conversar com minha guru, uma paladina do voto nulo, que já me mostrava a luz quando eu ainda permanecia no doce embalo das ilusões eleitorais. Foi ela quem me explicou que meu voto não vale nada, foi ela que me mostrou que vender o voto não é prova de estupidez, foi ela que me fez ver como é fácil esperar que o mundo mude por delegação. Pois eis que a encontro balançada, tentada a votar no Lula para evitar o Alckmin.
Repito para ela tudo que ela me ensinou. Mas é em vão. Há uma barreira em sua mente. Não importa o que eu diga, ela é aterrorizada por visões de Gabriel Chalita no ministério da Educação, fazendo as crianças rezarem o pai-nosso antes das aulas; um quiosque da Daslu na frente do Palácio do Planalto; Artur Virgílio, o pigmeu moral da Amazônia, como líder do governo no Congresso; os ossos de Plínio Corrêa de Oliveira transferidos para o panteão da Pátria...
Então, em certo momento da conversa, seu rosto fica nublado. Ela está olhando para o filho, a adorável criança de 5 anos, que se diverte em seus folguedos inocentes. No momento, o menino decapitava toda uma série de horrendos vilões de massinha com a espada de uma tarataruga ninja de plástico. E a guru do voto nulo diz assim:
- Mas como eu poderia explicar para o meu filho que votei no Lula?
Sim, essa é a questão. Como explicar que, no final das contas, eu me curvo ao jogo tal como ele é sempre jogado? Eu abro mão da idéia de uma política diferente? Eu absorvo o discurso que está tudo bem - que o governo dos transgênicos, dos mensalões, dos acordos com a direita, do jogo duro contra os movimentos sociais, da festa dos banqueiros, esse governo também é "meu"? Eu acho que não há nenhuma possibilidade de mudança real? Eu me contento com tão pouco? Eu jogo sempre na retranca? Eu aceito a dissipação de tantas energias utópicas? Eu faço, alegremente, o elogio da mediocridade?
Não dá pra explicar. Não quero cair na cilada do anti-Alckmin. Ele não passa do reverso do anti-Lula.
E de anti em anti
nosso futuro
continua distante...
Mas a atenção está na disputa presidencial. De repente, os alckministas estão chegando. Oh, pânico! Nessa hora, muitos de nós parecem esquecer tudo o que estamos ensinando e voltam, desesperados, para os braços da urna eletrônica (urna tem braço?), pensando em escolher o menos pior.
Espantei-me ao conversar com minha guru, uma paladina do voto nulo, que já me mostrava a luz quando eu ainda permanecia no doce embalo das ilusões eleitorais. Foi ela quem me explicou que meu voto não vale nada, foi ela que me mostrou que vender o voto não é prova de estupidez, foi ela que me fez ver como é fácil esperar que o mundo mude por delegação. Pois eis que a encontro balançada, tentada a votar no Lula para evitar o Alckmin.
Repito para ela tudo que ela me ensinou. Mas é em vão. Há uma barreira em sua mente. Não importa o que eu diga, ela é aterrorizada por visões de Gabriel Chalita no ministério da Educação, fazendo as crianças rezarem o pai-nosso antes das aulas; um quiosque da Daslu na frente do Palácio do Planalto; Artur Virgílio, o pigmeu moral da Amazônia, como líder do governo no Congresso; os ossos de Plínio Corrêa de Oliveira transferidos para o panteão da Pátria...
Então, em certo momento da conversa, seu rosto fica nublado. Ela está olhando para o filho, a adorável criança de 5 anos, que se diverte em seus folguedos inocentes. No momento, o menino decapitava toda uma série de horrendos vilões de massinha com a espada de uma tarataruga ninja de plástico. E a guru do voto nulo diz assim:
- Mas como eu poderia explicar para o meu filho que votei no Lula?
Sim, essa é a questão. Como explicar que, no final das contas, eu me curvo ao jogo tal como ele é sempre jogado? Eu abro mão da idéia de uma política diferente? Eu absorvo o discurso que está tudo bem - que o governo dos transgênicos, dos mensalões, dos acordos com a direita, do jogo duro contra os movimentos sociais, da festa dos banqueiros, esse governo também é "meu"? Eu acho que não há nenhuma possibilidade de mudança real? Eu me contento com tão pouco? Eu jogo sempre na retranca? Eu aceito a dissipação de tantas energias utópicas? Eu faço, alegremente, o elogio da mediocridade?
Não dá pra explicar. Não quero cair na cilada do anti-Alckmin. Ele não passa do reverso do anti-Lula.
E de anti em anti
nosso futuro
continua distante...
14 Comments:
É engraçado como votamos num para não entrar o outro! Eu tenho verdadeira paúra de pensar no Gabriel Chalita usando a pedagogia do sorriso que ele usou aqui em São Paulo! São vídeos e mais vídeos que fui obrigada a assistir com aquela fisionomia sorridente-zen tentando nos fazer acreditar que as escolas de São Paulo estão ótimas e que o professor é o grande culpado pelos problemas do adolescente.
Realmente a guru deve fazer parte da minha turma: os professores que são feitos de palhaços pelos jovens pseudo-alfabetizados dos secretários Neubauer & Chalita, que destruíram as escolas Paulistas.
Ah, mas quem foi mesmo o ministro da educação do Lula? Aquele ex-reitor de universidade e que, como candidato a presidente, mandou que todos votassem no Alkmim?! E quem é o atual? Ah, é o... quem mesmo?
Voto no seis ou na meia dúzia??? Que dilema!!!
o voto nulo é o único que deixa eu me olhar no espelho!!!
pensem na "adorável criança de 5 anos". Acordem para a realidade. Não adianta teimar pq o futuro dela está diretamente ligado ao resultado de 29 de outubro. Vão anular o futuro dela?
e é o meu voto que faz o resultado? meu pobre votinho, perdido na imensidão do oceano, lado a lado com os grandes interesses, com a grana da campanha, com os caciques dos grotões, com a mídia...
cidadão, você anda muito iludido...
tenho uma sugestão pra vc: lê um blog instrutivo. o link é www.votosnulos.blogspot.com!
Ô, criatura iludida!
É difícil conseguir flexibilizar as interpretações, relativizar as próprias crenças, tentar pensar de maneira diferente, incorporar outras visões de mundo... Mas será que vim ao mundo pra ficar repetindo a vida toda o mesmo discurso? Será que nunca vou conseguir me livrar do que já me incucaram que é certo e pronto?
Esse discurso anti-voto-nulo que diz que anular o voto é anular o futuro me parece cópia do discurso raso da justiça eleitoral. E também parece preguiça de refletir um pouco melhor e ver que o que é substancial não muda se o sistema político continuar o mesmo, se a lógica do que é admitido como política hoje continuar a mesma.
É claro que não é fácil se desprender das convicções adquiridas/desenvolvidas durante toda a vida, que afirmam que anular o voto (no segundo turno, então!) é "desperdício". Mas por que votar no Lula e no Alckmin seria diferente?
Era uma vez, uma vila onde trabalhavam muitos vinicultores. Um rei de um país vizinho iria visitar a vila, para conhecer os vinhos produzidos ali e se gostasse da qualidade, passaria a importá-los. Pediu que fosse preparada uma tina onde cada vinicultor colocaria uma garrafa de seu melhor vinho. Um vinicultor pensou: Não vou levar meu melhor vinho. Vou levar uma garrafa com água, pois no meio de tantos vinhos não irá fazer diferença. E assim fez. Chegando à vila, o rei pegou uma taça, mergulhou na tina e tomou um susto quando viu que a taça continha apenas água. Percebendo o que tinha ocorrido, o rei saiu da vila e prometeu nunca mais voltar.
Era uma vez, uma vila onde trabalhavam muitos vinicultores. Um rei de um país vizinho iria visitar a vila, para conhecer os vinhos produzidos ali e se gostasse da qualidade, passaria a importá-los. Pediu que fosse preparada uma tina onde cada vinicultor colocaria uma garrafa de seu melhor vinho. Um vinicultor pensou: Não vou levar meu melhor vinho. Vou levar uma garrafa com água, pois no meio de tantos vinhos não irá fazer diferença. E assim fez. Chegando à vila, o rei pegou uma taça, mergulhou na tina e tomou um susto quando viu que a taça continha apenas água. Percebendo o que tinha ocorrido, o rei saiu da vila e prometeu nunca mais voltar.
Com meu post anterior, espero abalar um pouco a idéia do voto nulo. Não dêem muito valor para as exceções. Foi péssimo Maluf ter sido eleito, mas ele é apenas 1 em 513.
Se quiserem justicar para seus filhos porque votaram no Lula, digam que ele reduziu a pobreza e aumentou o salário mínimo ou outro fator positivo que encontrem. Se for no Alckmin, digam que as estradas melhoraram e que ele retirou as celas das delegacias.
Bacana...
Mas não entendi nada.
Afinal, meu voto é vinho ou água?
Sua metáfora vale prum lado ou pro outro.
E eu fico feliz de ver que existe no mundo um ser tão iludido que acha que tanto Alckmin quanto Lula são bons.
(Heaven, I'm heaven, como cantavam os imortais Ella & Louis.)
Cara, se for pra justificar meu voto eu posso dizer até que foi o horóscopo que me mandou votar em A ou B. Ou melhor, em A ou L.
O problema é manter a vergonha na cara.
PS. Maluf é 1 em 513. E os outros 512 são o que mesmo???
Lá vai:
1) Se uma das justificativas para o voto nulo é exatamente a irrelevância de UM SÓ voto, ou seja, "meu voto não vale nada e não vai fazer a mínima diferença no processo", o que faz desse único voto algo relevante no caso dele ser nulo? No fundo, isso me parece um pouco aquela história olsoniana sobre ação coletiva. "A minha participação, sozinha, não fará diferença". Se o voto realmente não tivesse valor algum, nem esse blog teria razão de ser, pois, para que convencer outras pessoas a votar nulo? Por que, diabos, ele tem caráter instrutivo?
2) Se fôssemos considerar esse primeiro ponto, uma atitude mais coerente do que votar nulo seria a própria ação de não votar. Devería-se escolher sofrer as conseqüências da "irregularidade" do título de eleitor ou, no máximo, justificar a ausência do voto. No limite, a ação de votar nulo também é prevista pelo sistema e, assim como os dalits no sistema de castas indiano, não está "fora". Votar nulo é "protestar" através de uma ação já institucionalizada. Como deslegitimar um sistema através das opções que ele mesmo nos coloca?
3) Nesse segundo turno, especialmente, a disputa presidencial significa muito mais do que a indicação de um miserável indivíduo para o mais alto cargo do executivo. Por mais que Lula realmente tenha caminhado para a direita, temos uma disputa simbólica importante. Em hipótese nenhuma a eleição de de Lula ou de Alckmin significa a mesma coisa. Tenho dúvidas se o mais importante está na definição dos caras que vão compor as instituições podres que temos no Brasil. Acho que o que mais importa é a disputa simbólica que está no fundo de tudo isso e eu desafio alguém a expor argumentos que evidenciem que a eleição de Lula significa a mesma coisa que a eleição de Alckmin nessa sociedade brasileira.
Helena, o primeiro post deste blog dizia: "Voto nulo não vale nada. Os outros também não". Então, seu primeiro ponto está vencido. A campanha pelo voto nulo é um momento de mostrar a falência do nosso sistema representativo. Uma "janela de oportunidade" para colocar isso em questão.
Quanto ao segundo ponto, não votar implica em custos (por exemplo, para estudantes ou funcionários públicos). Não temos a menor intenção de arcar com eles. Qual a vantagem? No dia em que construírem um monumento aos mártires do voto nulo, espero realmente estar de fora dele...
Por fim, o ponto central. Qual o simbolismo do voto no Lula? "Digo não à direita"? É isso que está dizendo Sarney, quando vota Lula? Maluf? Collor? Sérgio Cabral? Marcelo Crivella? Olívio Dutra? (Um bom índice do grau de esclarecimento político de alguém é ver o quanto ela se assusta ao ver o Olívio Dutra citado no meio da direita...) Não, o voto no Lula diz o seguinte: eu me conformo com pouco. Eu "amadureci" e entendi que o mundo é assim mesmo, que nunca nada vai mudar. Eu não quero trocar o certo pelo duvidoso, deixa o homem trabalhar...
você-sabe-quem, será que li direito ou você não respondeu ao desafio da Helena?
uai, tá tudo respondidinho.
lê de novo.
Disputa simbólica? Isso me lembra a primeira vez q joguei RPG (aquele joguinho de fingir q é real)! Estava tão envolvido no jogo q ao morrer e ser expulso da brincadeira na minha própria casa fiquei com vontade de mandar todo mundo pra fora. Aí o s´baio coordenador da brincadeira disse: isso é só uma "disputa simbólica"! Traduzindo: não muda nada de efetivo, a não ser o seu humor! Acho q isso se aplica ao Alckmin e ao Lula. Agora só falta alguém vim com o papo de "A auto-etima do brasileiro vai aumentar com o Lula" (faça-me o favor!)
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