Sunday, September 24, 2006

Em busca do candidato bom

As eleições se aproximam e, com elas, a ansiedade daqueles que acreditam na força do voto... Às vezes, presenciamos cenas dantescas, como a que vou relatar para meus leitores (?).
Estava eu andando pelo parque, quando vi uma uma pessoa sentada num banquinho, tremendo freneticamente, roendo as unhas, tentando segurar os soluços do choro e com o olhar perdido. Logo reconheci: era a Criatura Iludida, em mais uma etapa de sua jornada em busca dos bons candidatos, merecedores desse afago tão importante, o seu voto.
A duras penas, a Criatura Iludida já renunciara ao direito de escolher o novo presidente da República - a pá de cal foi quando tomou conhecimento das posições da musa da camisa branca sobre o direito ao aborto. Em seguida, descobriu que seu candidato ao governo recebera uma polpuda contribuição da Igreja Universal; a segunda opção estava envolvida com a lavagem de dinheiro de bingos clandestinos; o terceiro tinha como vice um veterano protagonista de escândalos político-policiais, com quase 30 processos nas costas.
Sobrava, felizmente, o Legislativo, coração da democracia. Da última vez que nos falamos, a Criatura Iludida estava confiante nas suas escolhas para senador e deputados. Agora, pelo jeito, encontrara problemas.
- Por que choras? - perguntei, em tom amável.
- Descobri que meu candidato a senador é financiado por um dos candidatos ao governo para detonar um adversário no horário eleitoral. Dizem que, depois, vai até ganhar uma secretaria - a Criatura Iludida estava desolada.
Fiquei com dó:
- Mas sempre sobram os deputados...
- Pois é, eu ia votar no R*** para federal, mas ele está envolvido no escândalo das ambulâncias. Minha outra opção era G***, mas agora ele recebeu uma reportagem elogiosa da revista Veja!
- Que puxa... Enfim, você pode votar num estadual bacana!
- Eu ia! A F*** é íntegra, honesta, ninguém nem entende como saiu candidata. Mas o partido dela está coligado com o [aqui, a Criatura Iludida citou qualquer sigla], então meu voto vai acabar colaborando para a reeleição do B***, que é acusado de pedofilia, e do V***, indiciado por três homicídios.
Tudo indica que, no dia 1º de outubro, a Criatura Iludida vai anular de cima a baixo. Nem por isso estará menos iludida. Ela pensa que o problema é a ausência de candidatos bons ou de coligações puras. Enquanto continuar pensando assim, seu pobre coração vai penar de desilusão em desilusão.

Thursday, September 21, 2006

Coerência

Pois é... O que realmente importa é a organização política (apesar de atualmente ser muito pouco democrática...), independente de como ela se apresente. Por isso todos os cientistas políticos correm desesperadamente para entrar na fila de votação durante as eleições. Afinal, é dever de cada um escolher o candidato “menos pior”... Olhamos tudo o que está por aí, no mercado político, e decidimos por aquele candidato que vai fazer a diferença! Aquele que é extremamente ético, que buscará a realização da vontade de todos, sem contar que possuirá o contrato mais milionário com o marketeiro da onda.

Faz me rir...

Bem, não agüento mais repetir isso, mas devo atentar que a perspectiva dos picaretas a escrever este blog é a de que os partidos políticos não são capazes de incorporar as necessidades presentes na comunidade. A especialização política distancia, e muito, as expectativas daqueles que concedem seu poder político daqueles outros, denominados políticos, que usurpam esta capacidade de exercer mudanças.

Não tem dessa... Os partidos políticos incorporam a diferenciação entre as pessoas! Uma vez que são estas mesmas pessoas que elaboram e arquitetam a nossa organização legal, não é de se espantar o descaso e a corrupção da nossa ordem legal e política. Apesar de a nossa Constituição enaltecer (apenas em alguns pedaços) a igualdade entre todos aqueles pertencentes à ordem política... (pois é)... nisso alguns se beneficiam e outros são excluídos (para não falar palavras mais fortes).

Se alguém aceitou os argumentos até o momento apresentados, o que realmente importa é manter a coerência. Se não é possível existir representação a partir dos partidos políticos não vai ser o meu voto que irá conduzir a uma modificação da organização política que acho equivocada.

Estes ilustres blogueiros não primam pela tentativa de garantir uma organização “democrático-representativa” ou pela “desconstrução” da ordem. É apenas coerência... até o Platão falava disso usando a boca de Sócrates (isso que nem sou tão fã assim do Platão). É preferível entrar em contradição com a multidão do que ignorar suas próprias reflexões. Serei a gralha no meio da revoada de corvos presentes no momento do voto. Apenas porque, na minha avaliação - a qual pode ser compartilhada por outras pessoas -, dois motivos me incentivam a manter meu voto anulado:

- Não acredito na forma de representação imposta dentro do território brasileiro. Partidos políticos possuem o monopólio da disputa política, servem apenas a eles mesmos e possuem mais força do que se costuma declarar.

- Ao mesmo tempo, o voto nulo existe para aqueles que estão/são descrentes com a atual organização política, a qual incorpora diversas noções preconceituosas e que costumam simplificar as relações sociais. É um protesto contra todas as formas de exclusão contidas em nosso belo Estado de Direito.

O mais interessante é perceber como pretensos defensores da democracia ignoram que o voto nulo É uma opção na disputa política e que deveria ser respeitada como tal. Mas, desde Robert Dahl, os “democráticos” não sabem como lidar com tanta liberdade... Democracia representativa não é democrática, é excludente. Sempre que alguém propõe mais democracia, sem passar pelos canais da representação tradicionalmente estabelecidos, imediatamente sua posição é ridicularizada e excluída do espaço público.

Eu não voto nulo para realizar uma revolução com o meu voto. Esqueçam o voto, por favor! Isso não serve para nada, não existe o que ser representado! Os partidos são incapazes de realizar isto. Eu voto nulo porque percebo essas contradições no sistema político e seria hipocrisia da minha parte compactuar com algo que não posso acreditar.

Se alguém concordar com os argumentos apresentados por estes defensores do voto nulo, bem vindo ao voto nulo. Se não for este o caso, espero ao menos que tenham lido os argumentos aqui presentes e refletido sobre eles.

Saturday, September 16, 2006

A nossa bancada

Dia desses, eu conversava com um sábio letrado sobre os descaminhos da humanidade. Quando trocamos idéias com um indivíduo desses, como diria o Baleiro, a toda hora rola um insight. E eu falei:
- O voto nulo deveria eleger bancada. Se temos 5% de votos nulos, 5% das cadeiras da Câmara deveriam ficar vazias. A bancada do voto nulo seria a única imune a escândalos!
Na verdade, havia um componente oportunista em minha idéia. Quem resistiria à tentação de colocar um deputado a menos em Brasília? Caso a regra fosse adotada, nossa campanha alcançaria mais de 90% dos votos!
Mas o sábio letrado redargüiu (como se vê, era realmente um sábio letrado - redargüir é para muito poucos):
- Meu caro, essa bancada já existe. Ou você nega que a maioria do Congresso é formada por completas nulidades?
Sim, é verdade. Então é necessário enfatizar: essa bancada não é nossa. É a bancada do voto válido.
Não vote em nulidade! Vote nulo!

Sunday, September 10, 2006

Porque nós estamos certos e todos os outros estão errados

Vozes autorizadas reclamam que esse blog tem um tom meio autoritário. A gente fica aqui com um dedão na cara das pessoas, dizendo "vote nulo", "vote nulo", impondo uma opção - e nesse sentido nosso discurso não é muito diferente de qualquer discurso de campanha eleitoral, de um Severino Cavalcanti ou Jandira Feghali da vida.

Bom, é isso mesmo. Ou quase. É difícil que um discurso político não tenha esse viés autoritário; fazer política (que Habermas não me ouça) é tentar impor um ponto de vista a outras pessoas, por meio do convencimento ou de outros meios. Nós usamos o convencimento, até porque os outros meios não estão disponíveis.

Mas a diferença é que o ponto de vista que nós queremos impor é o certo! E eu queria mesmo era comentar os artigos publicados na página 3 da Folha de S. Paulo de ontem (sábado), sobre o voto nulo. Para demonstrar seu graaande pluralismo, tem um texto contra e outro "a favor" do voto nulo. O texto contra está todo errado. O texto a favor também. A verdade, ao que parece, mora só nesse blog. E no coração das pessoas de bem, é claro.

Escreve contra o voto nulo o sr. André Franco Montoro Filho, economista, ex-ocupante de cargos de confiança e, obviamente, filho do André Franco Montoro. Em seu texto, intitulado "Uma proposta sem propósito" - bom título, por sinal, é necessário reconhecer -, ele volta à velha lenga-lenga: se os bons votam nulo, perdem a chance de eleger os melhores... Seu voto é uma arma, basta escolher bem para mudar o país... A novidade é que Montoro Filho dá conteúdo ao "escolher bem". Temos que eleger candidatos "comprometidos com a mudança do sistema eleitoral". Agora tá explicado.

É um tipo de argumentação completamente autista. As pretensas virtudes do modelo de representação que nós temos hoje são aceitas sem contestação, embora os fatos forcem a reconhecer que essas virtudes nunca se efetivam. Os argumentos favoráveis ao voto nulo são solenemente ignorados, como se fosse uma mera birra - tô de mal com a elite política, por isso não voto em ninguém. A birra, aliás, já seria legítima, mas é mais que isso. (Sem falar na estupidez que é depositar tamanha fé numa mudança de sistema eleitoral, que provavelmente vai nos colocar numa situação pior ainda: o sistema majoritário que o artigo propõe fossiliza as elites política, gerando taxas de reeleição que giram em torno dos 95%, como nos Estados Unidos.)

Daí vem o artigo que responde "sim" à questão "O voto nulo é útil para a democracia?", assinado por Carlos Fernando Galvão, ongueiro. Não entendi algumas partes - quando começam a falar de "um novo espaço-tempo brasileiro", meus neurônios saem de férias. No pedaço que entendi, o ilustre articulista, que faz questão de anunciar que não vai anular o voto, concede que anular o voto pode ser uma demonstração de protesto contra a corrupção da elite política brasileira. Mas se confunde ao estabelecer que votar nulo é ser a favor da política participativa e contra a representativa. Bom, não é nada disso. Aliás, o que essa dicotomia quer dizer?

O voto nulo expressa a intenção de não legitimar o processo viciado de representação política que hoje temos. Não é (ou não é necessariamente) um mero protesto contra A ou B, os políticos atuais: não são as pessoas que estão sob julgamento, mas o sistema. E não há a ilusão de abandonar a representação. Não existe política sem representação - mesmo na Grécia antiga, vamos lá ler o velho Finley. Mas a representação não precisa ser isso que é hoje.

É isto. É esta a verdade. É nisso que estamos certos. Aos errados, ainda é tempo de se converter!

Saturday, September 09, 2006

Do Faustão à soberania popular

Poxa... o Birigüi voltou empolgado e eu enrolei pra soltar esse post, se eu o fizer amanhã perde um pouco do sentido então lá vai:


Cenas do dia-a-dia. Domingão do Faustão. No meio da “dança” dos “famosos” o sapiente apresentador decide utilizar o espaço privilegiado de nos “obrigar” a ouvir o lhe der na telha para iluminar os pobres mortais que não aparecem na televisão, por meio de uma linda “lição” de cidadania.

Ele queria dizer que votar em Nulo ou em Branco era um retrocesso na cidadania. Isso seria anular um direito. É claro que em menos de um minuto o globalizado apresentador foi capaz de chegar com sua argumentação minuciosa e “perspicaz” a centenas de milhares de pessoas e ainda por cima convencê-las.

Mas o melhor foi o Walcir Carrasco falando que o global merecia um 10, porque a gente tem que procurar o melhor, nem que seja o menos pior... o que será que ele vai falar daqui 20 anos?

Enquanto isso os três anões do voto nulo tentam – com leves e pequenas picaretas – questionar o muro que foi construído para defender estas fantásticas instituições que são os partidos políticos.


Com esta crítica os dois buscaram deslegitimar o voto nulo, ao trazer um tom de irracionalidade a este tipo de voto. O motivo seria que quem vota nulo quer derrubar o sistema, mas que isso não ocorreria legalmente. Certíssimo, se não fosse por algumas considerações...

Primeiro, existem dois movimentos distintos a favor do voto nulo, em um deles pode-se dizer que estariam, na realidade, partidários do voto branco. Estes se preocupam com as opções ofertadas e não vêem problema com a organização política, uma modificação dos candidatos já seria o suficiente. Daí vem toda a teoria da conspiração sobre repetir as eleições com novos candidatos. Isso é interpretação da lei, depende do TSE, mas duvido que esta instituição concorde com algo assim (parece que já se manifestaram contrário, mas não tenho certeza no moment); e eles querem esse rolo bem longe deles...é só ver a campanha maciça contra o voto nulo. Você ainda pode somar a esta posição do TSE a ladainha presente em todas as campanhas (“não anule seu voto na privada, vote no seu camarada”). Todos os envolvidos no processo eleitoral estão preocupados com o voto nulo, claro que por um motivo um tanto mais pragmático... Afinal, tem quem ache que o argumento do desperdício do voto nulo cola fácil...

A outra interpretação se baseia na percepção da atual organização política como maléfica em seus princípios e fundamentos, o que acaba por corromper todos os instrumentos que saem daí; partidos, eleições, tribunais eleitorais, campanhas para desestimular o nulo, livros sobre o voto branco, etc. Eu acho que quem lê o blog sabe a qual corrente estes anões transitam... Nesse ponto ainda é possível tratar sobre os anarquistas e os não anarquistas, mas daí é só ler um post anterior do grande Miguw.

Defendemos o voto nulo pois é UMA das formas de expressarmos nossa visão, mas nunca a única. Não queremos a anulação das eleições, isso é pouco... Agora... se quase todo mundo anular o voto as mudanças institucionais serão pequenas, porém, um sentimento de insatisfação estará no ar...e isso É uma baita diferença.

A partir daí vamos ao segundo ponto falho do digníssimo apresentador. O VOTO nulo não vai derrubar nenhum sistema. Mas da forma como ele fala acaba por esquecer que o voto nulo não é apenas um voto, mas a percepção de VÁRIAS pessoas que sentem ter algo de errado com o sistema político. É engraçado como só parte das idéias de Locke chegam aos nossos dias, afinal, para este pensador, quem detêm o poder efetivo é o povo, que pode depor os membros do governo a qualquer momento, nem precisa ser de 4 em 4 anos... O poder É do povo, se a coletividade quiser modificar sua organização ela PODE, e não serão regras que modificarão esta situação.

Em época de prozac e lexotan uma pílula em forma de candidato é algo muito tentador...

AVOA – Associação dos Votantes Anônimos

Já fui um votante! Tudo começou muito tarde, quando eu tinha 18 anos. As discussões sobre política me envolviam muito e eu sentia uma forte necessidade de me enturmar. Além disso, havia as pressões lá de casa para eu virar militar e, em protesto, passei a militar com os partidos anti-sistêmicos. Comecei aos poucos. Primeiro o voto de protesto. Depois passei a votar no PCO e no PSTU. Acreditava que meu voto nunca valeria nada mesmo e que eu poderia parar quando quisesse (pausa triste).

Mas o desejo de “influenciar o sistema” me dominou. Os jingles começaram a fazer meu coração bater mais rápido e às vezes me pegava num transe psicodélico com as cores dos partidos. Para piorar a situação, entrei num partido! Lá encontrei outros votantes como eu que me incentivam a votar mais e mais. Finalmente, a esperança cega me fez votar no Lula (lágrimas escorrem neste momento). Eu não percebia, mas já estava viciado.

Quando dei por mim, já era tarde. Entretanto, sou um viciado em recuperação. Hoje, completo três anos, nove meses e oito dias sem votar graças à Deus. Não participo mais do partido, não voto nem para síndico, muito menos para representante de sala. Tenho medo até de enquete virtual. Mas sei que ainda estou em recuperação...

(Este foi o depoimento de MB 18. Sabemos que muitos jovens e adultos são viciados em votar. Parar é muito difícil, mas é possível! Nós da AVOA gostaríamos de ouvir o seu depoimento para que possamos nos fortalecer unidos.)

Um tempo que não volta mais

Caros leitores (se é q vcs existem)

Como vcs devem ter notado, estive ausente durante todo o mês de agosto. Isso porque decidi sair da minha cômoda cadeira estofada e caminhar Brasil afora em busca de alguém que pagasse um preço digno pelo meu voto (como foi já foi dito e repetido, um clipe e dois chicletes, nada menos!). Todavia, completamente desolado, volto para meu lar e comunico a vcs: não encontrei quase nenhum comprador! Sabe por quê? Porque depois dos mensalões e sanguessugas, todo político agora quer ser honesto!


Meu ato de cinismo, quer dizer, civismo, foi em vão! Até consegui umas dentaduras, mas com muita dificuldade. Hoje em dia, o comprador de voto é o primo do cunhado da vizinha do sobrinho do assessor de imprensa da segunda secretária do candidato. Acabaram com a venda direta, com a troca negociada entre iguais, com o mercado livre de votos. Se não bastasse, depois de passar pelos atravessadores ainda fui revistado, pois até câmera de celular pré-pago assustava. As relaçõesde confiança entre vendeleitores e candidatos foram substituídas por empresas especializadas (marketeiros) capitalistas sem a mínima ética!

Senti saudade dos bons tempos em que olhávamos para um candidato e podíamos bater no peito e dizer a nossa única certeza interior: esse é ladrão! Tempos da política em que a verdade reinava e que podíamos prever o que aconteceria. Quem algum dia acreditou na honestidade de Maluf? Votávamos nele porque víamos as ladroagens brotar de suas cândidas palavras. Ele é um grande homem porque age de forma coerente com nossas expectativas.

Hoje em dia nada mais é respeitado. Os desonestos assumidos caem e os desonestos não assumidos sobem. Fica somente a lembrança do sábio provérbio que este Mascate nostálgico que vos fala reproduz aqui:

“Mais vale confiar no desonesto, pois sabemos o que dele esperar! Já o honesto sempre pode nos surpreender!"

Sunday, September 03, 2006

Expor a farsa eleitoral! Preparar o poder popular!

Companheiras e companheiros de luta!

A hora se aproxima! Em menos de um mês, a grande farsa das eleições se estenderá por todo o Brasil. Como o gado rumo ao abatedouro, o povo brasileiro se dirigirá às urnas eletrônicas, trazendo nas mãos o santinho de seu candidato e no coração a esperança de que a fila seja curta, para, ao tocar em algumas teclas, transferir para um punhado de integrantes da elite a soberania política que devia lhe pertencer. Depois, diante das câmeras da TV Globo, sorrirá seu sorriso desdentado e expressará a fé que, contados os votos, tudo vai ser melhor. Claro, a gente sabe que não é nada disso, mas não podia decepcionar a moça repórter, coitada, tão bonita naquele cabelo cheio de laquê e de maquiagem exagerada...

E assim elegeremos Rodrigo Maia, elegeremos Antônio Palocci, elegeremos Antônio Pedreira, elegeremos José Serra, elegeremos Marcelo Crivella, elegeremos Chico Alencar, elegeremos Delfim Netto, elegeremos Joaquim Roriz, elegeremos ACM Neto, elegeremos Ângela Guadagnin. Elegeremos Luiz Inácio Lula da Silva. Vamos passar mais um atestado de nossa incompetência, de nossa impotência coletiva. Todos os que elegeremos serão ruins. Mesmo que sejam bons, serão ruins - porque, como se sabe, não basta mudar pessoas, é o sistema que apodrece e contamina qualquer um que se aprochegue.

O voto nulo indica nosso inconformismo. O voto nulo estabelece que nós não acreditamos nessa farsa, que nós sabemos que nada vai mudar caso o sistema representativo continue sendo o que é - caso as oligarquias partidárias sejam os intermediários obrigatórios da expressão da "vontade popular", caso o povo comum não possa exercer a política a não ser de maneira tão eventual e tão limitada, caso o poder econômico atue, caso a informação seja provida por tão poucos, caso as esferas decisórias fiquem longe, tão longe, acima das nuvens do Planalto Central. O voto nulo marca nossa rejeição radical da política elitista hoje existente.

Afinal, nós sabemos que, como andam dizendo por aí, a única coisa que aprendemos com uma eleição é que não aprendemos nada na eleição passada.

No lugar dessa política limitada e elitista, precisamos construir novas formas de participação e de representação, que ampliem a igualdade, que redistribuam o capital político. Como? Sei lá! Não existem fórmulas. Existem vagas intenções utópicas... Com elas podemos trabalhar. A tarefa, agora, é negar a política atual. Negá-la da forma mais completa e absoluta possível. O vazio aberto por esta negação permite que a imaginação política coletiva produza novas instituições. E, se não pintar nada de interessante, a gente usa o vazio pra construir um parquinho com brinquedos pras crianças (adultos também podem), três ou quatro churrasqueiras, uma piscina... Para aproveitar os dias de sol, sabe?

O futuro já vai chegar! Aux armes, citoyens!