Em busca do candidato bom
Estava eu andando pelo parque, quando vi uma uma pessoa sentada num banquinho, tremendo freneticamente, roendo as unhas, tentando segurar os soluços do choro e com o olhar perdido. Logo reconheci: era a Criatura Iludida, em mais uma etapa de sua jornada em busca dos bons candidatos, merecedores desse afago tão importante, o seu voto.
A duras penas, a Criatura Iludida já renunciara ao direito de escolher o novo presidente da República - a pá de cal foi quando tomou conhecimento das posições da musa da camisa branca sobre o direito ao aborto. Em seguida, descobriu que seu candidato ao governo recebera uma polpuda contribuição da Igreja Universal; a segunda opção estava envolvida com a lavagem de dinheiro de bingos clandestinos; o terceiro tinha como vice um veterano protagonista de escândalos político-policiais, com quase 30 processos nas costas.
Sobrava, felizmente, o Legislativo, coração da democracia. Da última vez que nos falamos, a Criatura Iludida estava confiante nas suas escolhas para senador e deputados. Agora, pelo jeito, encontrara problemas.
- Por que choras? - perguntei, em tom amável.
- Descobri que meu candidato a senador é financiado por um dos candidatos ao governo para detonar um adversário no horário eleitoral. Dizem que, depois, vai até ganhar uma secretaria - a Criatura Iludida estava desolada.
Fiquei com dó:
- Mas sempre sobram os deputados...
- Pois é, eu ia votar no R*** para federal, mas ele está envolvido no escândalo das ambulâncias. Minha outra opção era G***, mas agora ele recebeu uma reportagem elogiosa da revista Veja!
- Que puxa... Enfim, você pode votar num estadual bacana!
- Eu ia! A F*** é íntegra, honesta, ninguém nem entende como saiu candidata. Mas o partido dela está coligado com o [aqui, a Criatura Iludida citou qualquer sigla], então meu voto vai acabar colaborando para a reeleição do B***, que é acusado de pedofilia, e do V***, indiciado por três homicídios.
Tudo indica que, no dia 1º de outubro, a Criatura Iludida vai anular de cima a baixo. Nem por isso estará menos iludida. Ela pensa que o problema é a ausência de candidatos bons ou de coligações puras. Enquanto continuar pensando assim, seu pobre coração vai penar de desilusão em desilusão.